Grassa por aí uma ignorância abismal entre a esquerda sobre a questão do Capitalismo. Para eles, mentes ignorantes e desconhecedoras da história, o Capitalismo é o "mal de todos os males", é o domínio de todas as discrepâncias conhecidas e principal responsável por toda e qualquer desigualdade.
O Capitalismo é inerente à condição humana, desde os primórdios que existe Capitalismo, seja pela via das trocas de mercadorias, seja pela via de uma primitiva economia monetária e depois, pela via de uma economia monetária plena, com o surgimento entre os séculos XV e XVIII, dos bancos, das letras de câmbio, dos títulos, dos seguros, do crédito e das primeiras bolsas de valores.
O Capitalismo em si não é bom nem é mau, depende do uso que se lhe atribua, ou seja, da ética subjacente que lhe molda os seus princípios. Isto implica que a ética esteja a montante da política e esta, por sua vez, a montante da economia. O problema está no facto de hoje os valores estarem dispostos ao contrário; a economia está a montante da política e a política a montante de ética = Capitalismo Selvagem.
A passagem do Capitalismo para a sua versão radical, o Capitalismo selvagem, tem a ver, não exclusivamente mas em boa parte, com a extensão do feudalismo bem para lá do seu fim oficial, por alturas do final da Idade Média. Em França, por exemplo, mesmo depois da Revolução de 1789 ainda existia feudalismo, embora em menor grau do que antes e o mesmo acontecia no século XIX, mesmo nos países mais evoluídos. E nas primeiras décadas do século XX o feudalismo ainda persistia nos países mais atrasados, como por exemplo em Portugal, Espanha, Itália e nos países do leste europeu. Já não era bem um feudalismo clássico, mas resquícios dos quais as populações e as elites tinham dificuldade em eliminar dos seus quotidianos. Esta situação manteve-se durante a Idade Moderna e os inícios da Idade Contemporânea porque as reformas estruturais dos Estados eram muito lentas, ainda hoje o são em muitos casos, mas por motivos diferentes do que acontecia em épocas anteriores às primeiras décadas do século XX.
Essa reformas demoraram muito tempo, demasiado tempo, essencialmente, porque não existia uma percepção clara do futuro. Os Estados e as suas elites governantes apenas pensavam no imediato, manter o equilíbrio das suas fronteiras e esperar a oportunidade de aumentar os seus domínios e poderes.
Só com o grande advento da tecnologia no século XX a percepção do futuro passou a ser muito mais clara do que acontecera até aí. Os modos de ver o mundo e as relações humanas com o mesmo mudavam definitivamente os paradigmas.
A ignorância dos esquerdistas relativamente ao problema da persistência de modelos feudais até ao século XX e a ausência de reformas estruturais visíveis foram, como já se disse atrás, dois dos factores da passagem ao Capitalismo selvagem. Mas como os esquerdistas não fazem a devida distinção entre situações e acontecimentos, preferindo meter tudo "no mesmo saco", deu asneira. Marx e seus comparsas andaram anos e anos a ludibriar os povos, e ainda continua a existir gente que não consegue dissociar os conceitos relativos a esta temática. A burrice, a estupidez e a ignorância pura, são uma espécie de "neofeudalismo" tout court.
O Capitalismo selvagem está mais do que patenteado porque uma série de arrivistas se aproveitaram das oportunidades, criadas pelas tecnologias do século XX, que possibilitaram a transformação e manipulação do mundo pelo homem. Claro que este modelo é eticamente reprovável, aproveita-se de uma série de subterfúgios mais ou menos legais e da ausência ou desigualdade de leis laborais entre países para operar e se desenvolver. O caso da "Jerónimo Martins" e de outras empresas nacionais com sede fiscal na Holanda que pagam impostos mais baixos do que em Portugal, é criticado por muita gente e embora possa ser eticamente reprovável, as empresas não são culpadas da situação. A culpa são das leis de uma UE que nada tem de unida. Situação idêntica acontece com empresas de diversas proveniências que se aproveitaram da ausência de leis laborais, de regimes de segurança social e de acidentes de trabalho, para operarem na China e em outros países da região, em clara concorrência desleal com outros países onde existem regulação e leis. A culpa não é das empresas, não obstante a pouca ética demonstrada, a culpa é das leis e de quem as fez. Não vou discutir as motivações destas leis, não é aqui o momento para isso.
Mas como os esquerdistas são burros e nada percebem, nem nunca perceberam, de história e das suas verdadeiras implicações, achando-se na vanguarda moral e acima de tudo e de todos intelectualmente, a fraude e a mentira perpetuam-se no tempo. Na verdade, o vanguardismo dos esquerdistas é o vanguardismo da asneira, da incúria, da desonestidade intelectual e da inadaptação ao mundo e às leis da natureza. Criticar ferozmente o Capitalismo e querer eliminá-lo à força é o mesmo que querer eliminar a humanidade e as suas grandes realizações. Humanidade e Capitalismo são, grosso modo, "irmãos siameses", impossíveis de serem separados.
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