Durante uma boa parte do século anterior a mundialização não conheceu grandes obstáculos políticos e sociais. Mas neste ainda curto século XXI, a tendência é para uma mudança nesse sentido. O Brexit, a eleição de Donald Trump e de Bolsonaro vieram colocar em causa as perspectivas mundialistas. Esta realidade já começou a pôr em causa e a dificultar seriamente a actuação de diversas multinacionais que se regiam pelo conceito de "just in time", mediante o fornecimento de produtos e serviços com diversas origens, permitindo um rápido abastecimento e uma redução de custos.
Ao longo destes últimos anos, essas multinacionais eram elogiadas e aplaudidas pelos mercados e pelas opiniões públicas pela capacidade de maximizar os lucros mediante os investimentos em países terceiros. Essa época parece estar agora a chegar ao fim com o surgimento do coronavírus e os confinamentos decretados, atirando milhões de trabalhadores para lay-offs ou até mesmo para o desemprego. As perturbações económicas não se devem exclusivamente à interrupção do trabalho, elas são consequência lógica da grande dependência dos canais abastecedores, espalhados um por pouco por todo o mundo e dos quais as multinacionais dependem.
As multinacionais estão a ser pressionadas pelos poderes políticos para renacionalizar as suas produções em nome do interesse nacional e do sacrifício dos interesses económicos. Paralelamente à intensificação das críticas sobre a mundialização, assistimos ao regresso dos nacionalismos e da política do tipo "o meu país primeiro", devendo-se destacar que esta recrudescência nacionalista acontecer num momento de relativa prosperidade e estabilidade económica, em especial, nos países mais desenvolvidos mas também em alguns países em vias de desenvolvimento. Claro que esta prosperidade económica fazia-se sentir, essencialmente, no PIB global e não tanto nos rendimentos individuais das pessoas que viram diminuir, porque o aumento das desigualdades tem sido uma realidade bem presente, quer através de mais impostos (a pagar pelos mesmos de sempre), quer através de dificuldades acrescidas no acesso à saúde, educação e justiça, os pilares fundamentais de qualquer sociedade que se diga desenvolvida.
O coronavírus está a desestabilizar as economias, os dados económicos não são animadores, a vida quotidiana de uma grande parte das populações vai piorar, em especial, as que estão muito endividadas e que têm níveis de poupança muito baixos. Assim sendo, não é surpreendente este regresso à preferência nacional, ao nacionalismo económico e à inevitável escolha entre a sobrevivência nacional como um todo numa perspectiva colectiva e o fim de uma economia global que não tem em conta as características muito próprias de cada região, países e continentes sempre numa perspectiva individualista, onde pairam os maiores egoísmos e falsas solidariedades.
Se há males que vêm por bem, este é sem dúvida um deles. Permitiu que a opção nacionalista seja tida cada vez mais em conta, perante um cenário macrocéfalo de dúvidas e incertezas que a pandemia veio colocar em relevo, as incoerências de uma economia globalizada.
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