Um dos valores universais mais reclamado pelas sociedades antigas e
modernas é a justiça. O homem sempre teve «sede de justiça», mas a
diferença essencial na nossa época contemporânea (desde a Revolução de
1789), prende-se com a insistência sempre em crescendo de apresentar a
igualdade como substituta natural da justiça. Eu não sei que espécie
(mas imagino) de metamorfose perpassou a justiça, mas se as evidências
nos ensinam que existem iguais e desiguais, que a justiça e a igualdade não são comutáveis e que a igualdade só o poderá ser mediante a anulação de todas as diferenças, sociais, biológicas, psicológicas, económicas, etc, é implausível qualquer
igualdade ter a pretensão de substituir a justiça. A não ser,
evidentemente, que a justiça sirva interesses contrários ao espírito da
boa moral. Só deste modo se pode compreender a deriva de direito, de
justiça e de lei a que hoje assistimos, impavidamente, como se fosse a
coisa mais natural do mundo.
Quando se afirma (S. Paulo - Epístola aos Gálatas, III, 28) que todos os
homens são iguais perante Deus, isso não impede que uns sejam "julgados
como bons" e outros "como maus". A igualdade de Deus, ou seja, a
igualdade moral que deve reger as relações humanas, significa que
qualquer pessoa, rica ou pobre, potente ou miserável, nobre ou escravo
será "julgada" tendo em conta os seus méritos. As distinções sociais não
contam para o processo (hoje cada vez contam mais) e apenas as
diferenças que sejam essenciais, quer pela positiva ou pela negativa,
são passíveis de tratamento igual ou desigual.
Qualquer problema de justiça remete para um princípio de justiça formal e
de igual tratamento relativamente a outros casos parecidos, mas no
pós-modernismo do século XXI, esse princípio regulador está posto em
causa, já passou a fase da causa e é hoje um dado adquirido.
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