Devo desde já esclarecer que não sou salazarista e nem sequer estou aqui a defender um modelo de governação muito concreto, apenas pugno pela verdade e o que nos é apresentado como verdade pelo regime oficial e pelos órgãos oficiais da imprensa, não corresponde minimamente à realidade dos factos. Salazar fez um milagre no campo económico e educativo mas cometeu erros, enganou-se diversas vezes, não geriu bem a questão colonial tendo sido teimoso e intransigente, querendo manter o que restava do império a qualquer custo. Ao não querer negociar atempadamente a independência das colónias, como o fizeram os restantes países europeus com as suas colónias, fez o país perder muito dinheiro e arrastou-nos para uma guerra colonial que nos foi prejudicial. De igual modo Salazar não soube, ou não pode, rodear-se de elementos de confiança que pudessem dar continuidade à sua obra. É hoje sabido que Marcelo Caetano, apesar das suas qualidades a certos níveis, era um espírito demasiado fraco e as suas tentativas de progressiva liberalização da sociedade e da sua opção de querer agradar a "gregos e troianos", foram uma má decisão, porque feita atabalhoadamente e sem ter em conta o perigo comunista que pairava sobre o país. Na questão colonial Marcelo teve oportunidade de resolver as coisas a bem mas não o quis fazer, saindo assim chamuscado e sem margem de manobra para qualquer negociação séria, o que não se compreende muito bem tendo em conta que Marcelo, ao contrário de Salazar, conhecia muito bem as colónias portuguesas em África, os modos de vida e de ser dos africanos e tinha, na década de sessenta, observado a evolução do mundo da parte de fora do poder.
O regime já na sua fase final revelava um Marcelo Caetano sozinho, sem apoios, desacreditado, com um exército partido ao meio, com uns a puxar para um lado e outros para o lado contrário, um governo em constante sobressalto onde ninguém sabia muito bem o que fazer. Um dos grandes capitalistas da altura, António Champalimaud, entrou em choque com Marcelo por lhe travar os seus planos, com os constantes fluxos de capitais exigidos pela guerra colonial. Em vagas sucessivas Marcelo perdeu o apoio da igreja, dos liberais, dos capitalistas, das classes médias e do próprio exército que começou a extravasar as suas competências. O fim do regime era inevitável.
São diversos os historiadores que consideram que o regime estava em grave crise económica, no entanto, os números disponíveis desmentem essa versão (no próximo post, falaremos com mais pormenor deste assunto). A existir crises, que existiam evidentemente, a económica não era uma delas e se o país continuava com grandes assimetrias e desigualdades na distribuição de rendimentos, no nível salarial, na educação e formação dos portugueses, tudo se deveu a opções mal tomadas, mal geridas e também à falta de visão estratégica de conjunto, que era exigível perante um atraso que durava há pelo menos 150 anos, perpassando a fuga do rei e da sua comitiva para o Brasil aquando da primeira invasão napoleónica, a independência do Brasil, a Revolução Liberal de 1820 onde se deixou de investir no Portugal profundo, nas crises dos modelos parlamentares da monarquia constitucional dos anos 1870 em diante e na vergonhosa primeira República.
Continua.
O regime já na sua fase final revelava um Marcelo Caetano sozinho, sem apoios, desacreditado, com um exército partido ao meio, com uns a puxar para um lado e outros para o lado contrário, um governo em constante sobressalto onde ninguém sabia muito bem o que fazer. Um dos grandes capitalistas da altura, António Champalimaud, entrou em choque com Marcelo por lhe travar os seus planos, com os constantes fluxos de capitais exigidos pela guerra colonial. Em vagas sucessivas Marcelo perdeu o apoio da igreja, dos liberais, dos capitalistas, das classes médias e do próprio exército que começou a extravasar as suas competências. O fim do regime era inevitável.
São diversos os historiadores que consideram que o regime estava em grave crise económica, no entanto, os números disponíveis desmentem essa versão (no próximo post, falaremos com mais pormenor deste assunto). A existir crises, que existiam evidentemente, a económica não era uma delas e se o país continuava com grandes assimetrias e desigualdades na distribuição de rendimentos, no nível salarial, na educação e formação dos portugueses, tudo se deveu a opções mal tomadas, mal geridas e também à falta de visão estratégica de conjunto, que era exigível perante um atraso que durava há pelo menos 150 anos, perpassando a fuga do rei e da sua comitiva para o Brasil aquando da primeira invasão napoleónica, a independência do Brasil, a Revolução Liberal de 1820 onde se deixou de investir no Portugal profundo, nas crises dos modelos parlamentares da monarquia constitucional dos anos 1870 em diante e na vergonhosa primeira República.
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