Avançar para o conteúdo principal

A colossal confusão entre o discurso e o orador

Em 2016, quando Peter Thiel se dirigiu a Donald Trump na Convenção Republicana em Cleveland, tornou-se imediatamente não-gay aos olhos da mais proeminente revista gay na América. Só por este facto, de um assumido gay se dirigir a Trump, valeu-lhe a excomunhão da igreja gay. Dois anos depois, o mesmo padrão verificou-se entre os negros americanos. Após quase um ano de silêncio no Twitter, Kanye West voltou à plataforma na primavera de 2018. Cumprindo um dos seus dons, tornou imediatamente a ser notícia, quando em abril de 2018 elogiou a comentadora negra conservadora e activista Candace Owens depois de uma palestra que ela dera no campus da UCLA onde censurara algumas pessoas pelo movimento Black Lives Matter. Claro que esta censura lhe valeu muitas críticas, tanto a ela como a West que a elogiou.

Mas Owens não se deteve e continuou a criticar os que protestavam, acusando-os de estarem presos à «opressão». Paralelamente, tanto Owens como West eram e são apoiantes de Trump e do Partido Republicano, contrariando a tese de que os negros são exclusivamente partidários dos Democratas. Supremo pecado, suprema heresia destes dois negros americanos, heresia essa que seria elevada a paranoia quando em outubro de 2018 West esteve na Sala Oval a participar numa cimeira com Trump e outros elementos do partido a que se seguiria um almoço. Mas mesmo assim, West declarou no final da cimeira que adorava Trump.

As críticas, mais uma vez, não se fizeram esperar. Ta-Nehisi Coates, escreveu um artigo na revista The Atlantic onde falava sobre a sua infância e como adorava Michael Jackson. Comentou igualmente a estranha transformação de Jackson, que de afro passou a quase translúcida estátua de cera em que veio a tornar-se. Coates comparou assim West a Jackson, dizendo que o que West procura é o mesmo que Jackson procurava. Disse ainda que West chama à sua luta o direito de ser "um livre-pensador" e está, de facto, a defender um género de liberdade - uma liberdade branca -, liberdade sem consequências, liberdade sem crítica, liberdade de ser orgulhoso e ignorante. Estas posições de negros não agradavam a outros negros e, a certa altura, as ofensas das minorias sociais e políticas tornaram-se simplesmente em activismo das minorias políticas e a partir daí em política (podre). Segue-se que uma pessoa só é membro de pleno direito de um grupo minoritário se aceitar as ofensas específicas, as ofensas políticas e as resultantes plataformas eleitorais que outras pessoas estabeleceram para ela. Se sair desses limites, já não é a pessoa com as mesmas características que tinha antes, mas alguém que pensa de maneira diferente (erradamente, segundo o grupo a que pertence) da norma ou normas prescritas. As características são-lhe arrancadas. 

Por isso Thiel ao apoiar Trump já não é gay, West e Owens por apoiarem Trump já não são negros. Isto sugere que negro já não é uma cor de pele ou uma raça, ou pelo menos não é só isso, assim como gay já não é apenas uma escolha sexual. Passam a ser, de facto e inapelavelmente, segundo as mentes deturpadas e obliteradas pelo enviesamento ideológico, ideologias políticas.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O marquês de Pombal, o analfabetismo, o atentado a D. José e a fraude pandémica

O atraso de Portugal, quer a nível económico, quer a nível social ou a nível cultural, começa em meados do século XVIII. Passada a fase de grande prosperidade com D. João V e a chegada ao poder de D. José I, a liberdade e a alfabetização de Portugal sofreram um grande retrocesso. Esta tendência "suicida" de destruir o bom que já vinha de trás é paradigmática do processo de involução que este país tem vindo a sofrer desde há pelo menos 300 anos. A fase de fraude pandémica é apenas o corolário lógico de um acumular de farsas e mentiras. Quando os factos são conhecidos, não há surpresa quanto ao atraso de Portugal relativamente à Europa civilizada.  O nosso atraso nada tem a ver com a religião católica como de modo totalmente leviano e com uma boa dose de ignorância se afirma nos livros de história, tese partilhada e difundida por muitos historiadores. O nosso atraso começa com um dos maiores crápulas da nossa história, precisamente, o marquês de Pombal. Afirmar que os país...

O mundo ao contrário - a doidocracia

 Eu confesso que começam a faltar-me adjectivos para qualificar o que se vai vendo um pouco por todo o lado. Então não é que a "bêbeda" da Jill Biden afirmou que não ler livros pornográficos gays que já se encontram disponíveis em bibliotecas de algumas escolas primárias dos EUA é o mesmo que viver na Alemanha Nazi...!!! A notícia pode ser lida  aqui.  Como qualificar/classificar uma coisa destas?? Outra notícia de bradar aos céus  é esta que podemos ler aqui  que afirma textualmente que os emigrantes são responsáveis por 100% dos crimes sexuais cometidos na região de Frankfurt, o que corresponde a 57,4% de todos os crimes graves cometidos na região, só porque, pasme-se não se pode falar mal da emigração ilegal!! Para onde estes políticos filhos da puta estão a levar o mundo! Isto só vai endireitar a tiro, mas de canhão. Preparemo-nos para a guerra civil intra-europeia que se aproxima a passos largos!! Agora mais  uma notícia das boas, para rir até chorar ,...

A ambiguidade do termo racismo

 Segundo a Grande Enciclopédia Universal (vol. 16, p. 11025), o termo racismo apenas se popularizou como neologismo com a obra de J. A. Gobineau, editada em 1853 e intitulada "Sur L´inégalité des races humaines", que serviria de ponto de partida e de aprofundamento do tema de outro livro, considerado o clássico dos livros ditos racistas, "Die Grundlagen des neuzehnten Jarhunderts", escrito pelo germanizado H. S. Chamberlain. Esta obra serviu mais tarde para postular as posições racistas e de raça superior do Terceiro Reich. Não obstante, e no caso português, o termo apenas se generaliza nos dicionários a partir da década de 1960. Antes dessa época são muito poucos, escassos mesmo, os dicionários que incluem o termo. O termo é definido como: «Exacerbação do sentido racial de um grupo étnico», ou seja, a celebração da raça ou o culto da raça, enquanto entidade geradora de sentimentos fortes de pertença a uma comunidade de indivíduos unidos por laços de sangue e por um...