«A interpretação do mundo através das lentes da justiça social, das políticas de identificação grupal e do interseccionalismo é provavelmente o esforço mais audaz e amplo desde o fim da Guerra Fria para criar uma nova ideologia.
Até agora, a justiça social foi a que avançou mais, porque soa - e em algumas versões, de facto, é - sedutora. O próprio termo foi concebido para não admitir oposição. "Opõe-se à justiça social? Então quer o quê? Injustiça Social?"
As políticas de identidade , entretanto, tornaram-se o lugar onde a justiça social encontra as suas facções. Atomizam a sociedade em diferentes grupos de interesses de acordo com o sexo (ou género), raça, preferência sexual e outras coisas. Partem do princípio de que estes atributos são os mais importantes ou únicos relevantes dos seus possuidores, e que são acompanhados de certos bónus. Por exemplo (como escreveu o escritor americano Coleman Hugues), existe a assunção de que há uma sabedoria moral mais elevada que advém do facto de se ser negro, mulher ou gay. Vem daí a tendência das pessoas para começarem os seus discursos dizendo, "Falando enquanto...". E tanto vivos como mortos precisam de estar do lado certo. É por isso que há apelos ao derrube de estátuas de figuras históricas vistas como estando do lado errado e é por isso que temos de reescrever o passado daqueles que queremos salvar. Foi por isso que se tornou perfeitamente normal um senador do Sinn Fein afirmar que os grvistas de fome do IRA em 1981 estavam a lutar pelos direitos dos gays. A política de identidade é onde os grupos minoritários são incentivados a, simultaneamente, atomizarem, organizarem e afirmarem.
O conceito menos atractivo desta trindade é o de "interseccionalidade". Trata-se de um convite a passar o resto da vida a tentar compreender toda e qualquer reivindicação de identidade e vulnerabilbidade em nós mesmos e nos outros e depois organizarmo-nos dentro de qualquer sistema de justiça que emirja da hierarquia perpetuamente em movimento que vamos destapando. É um sistema, além de inoperável, demencial, fazendo exigências impossíveis em relação a fins inatingíveis. Porém, hoje em dia, a interseccionalidade saiu dos departamentos de ciências sociais das faculdades onde se originou. Está agora a ser levada a sério por uma geração de jovens e - como veremos - implantou-se nas leis do trabalho (especificamente através de um compromisso com a diversidade) em todas as grandes corporações e governos. Novas heurísticas tornaram-se necessárias para forçar as pessoas a absorver os novos princípios. A velocidade a que se tornaram mainstream é desconcertante. Como salientou o matemático e escritor Eric Weinstein (e como mostra uma pequena pesquisa no Google Books), expressões como «LGBTQ» , «privilégio branco» e «transfobia» passaram de um ponto em que nunca eram usadas a outro em que são mainstream».
Continua.
Transcrito para português correcto, in A Insanidade das Massas - como a opinião e a histeria envenenam a sociedade - de Douglas Murray, introdução, pp. 12/13.
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