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Qual a verdadeira intenção dos multimilionários pedirem mais impostos?

Um carta conjunta assinada e divulgada por vários multimilionários do mundo, especialmente, norte-americanos vem solicitar aos governos que lhes sejam aumentos os impostos. A justificação para esta tomada de posição está relacionada com a extrema preocupação com os mais desfavorecidos deste planeta, que, por causa da recente crise causada pelo coronavírus ficaram no desemprego ou viram os seus rendimentos descerem significativamente.

Segundo os signatários da carta esta crise não se resolve com qualquer espécie de caridade, a solução passará por se conseguir mais receita fiscal a aplicar correctamente, nomeadamente, na construção de novos sistemas de saúde e no reforço das redes escolares. Pois claro, saúde e educação são dois temas importantes, que dão visibilidade, credibilidade e estatuto. A carta termina com a grandiloquente frase: "A humanidade é mais importante do que o nosso dinheiro". Será mesmo...?

É por demais evidente que perante esta crise do (falso) vírus os Estados precisam de mais dinheiro para fazer face à crise que eles mesmos criaram. Só que há coisas que não batem muito certas, por isso mesmo, devemos desconfiar das reais razões que estão por trás da carta emitida pelos multimilionários. Senão vejamos: a dívida pública de vários países tem subido exponencialmente desde o ano 2000, sobretudo, a dos EUA. A dívida pública americana subiu até finais de Junho deste ano a mais de 3 biliões de dólares, ou seja, 16 vezes o PIB português e 4 vezes o PIB espanhol! 


 

 Do ano 2000 até Junho de 2020 a dívida pública americana cresceu ao ritmo de 8,1% ao ano. Comparativamente, o PIB americanos cresceu apenas 3,7% ao ano de 2000 a 2019. A pergunta não pode deixar de ser feita: com a quantidade infindável de recursos disponíveis e bastante superior ao crescimento do PIB, porque é que as necessárias infraestruturas, como escolas e hospitais, não foram construídos durante os últimos 20 anos? Quem pode garantir que será diferente daqui em diante?

É mais do que óbvio de que esta pomposa carta nunca menciona o banco central americano, a Reserva Federal americana e a sua política monetária. Mas o grande facto é precisamente devido às políticas da Reserva Federal que há uma imensa desigualdade social. Claro que a desigualdade existe e tem de existir, mas não nestes patamares! O confisco, caros amigos, dos rendimentos das classes mais desfavorecidas em favor dos mais ricos é o pretendido.


 


 Analisando este gráfico podemos ver que a riqueza detida em 1980 pelos 5% mais ricos dos EUA correspondia a 14% do total da riqueza americana. Em 2018 a percentagem subiu para 22%, um aumento de praticamente 8%. Estes 5% mais ricos possuem uma boa parte da sua riqueza em activos e obrigações. Aquando da falência do Lehman Brothers em 2008, a Reserva Federal decretou que o dinheiro passaria a ser grátis [chegou a 0% de juros em 2009] e disponível em quantidades astronómicas, em nome do investimento e de programas de estímulo monetário. O seu balanço subiu de 6 biliões de dólares entre 2007 e Junho de 2020. Este valor representa quase 30% do PIB americano. O que sucedeu foi o fim dos mercados financeiros, passando o planeamento a ser central, onde os preços evoluem ao sabor dos desejos dos comissários eleitos "à soviética".

A taxa de juro deveria servir para mediar a procura e a oferta por poupança dos agentes económicos, empresas, instituições financeiras e particulares. Mas isso está completamente ultrapassado, os comissários "à soviética" decidiram que o dinheiro é de graça, ou, quando muito, subsidiado.
Em outros países as taxas de juro são negativas, os que solicitam crédito ainda recebem por isso. Um novo mundo financeiro que, muito claramente, incentivará as grandes empresas e multinacionais a pedirem crédito. Mas esse dinheiro emprestado a taxas 0 ou mesmo negativas, não irá ser utilizado para construir infraestruturas, como fábricas, hospitais ou escolas, ou para realizar qualquer tipo de investimentos que beneficiem a sociedade como um todo. Irá ser utilizado, como já o está a ser, de há uns tempos a esta parte, para comprar acções próprias [as buy-backs], cujo objectivo está desde logo definido: fazer subir o preços das acções em bolsa e possibilitar enormes lucros e benefícios, com grandes prémios para os gestores, a suposto de grandes capacidades e inteligência (uma mentira, como se vê) e mais-valias para os investidores e accionistas. Um círculo vicioso, com consequências desastrosas para o resto da população.

Resumindo, neste novo mundo financeiro, os Estados, através dos seus bancos centrais , emitem dinheiro do ar através de fraudes e confiscos de propriedade privada, gerando um processo de enriquecimento artificial dos detentores dos activos financeiros. Para este processo ser possível, não é preciso produzir mais bens e serviços para a economia, basta injectar dinheiro falso, ou seja, confiscar aos mais pobres para dar aos multimilionários. 

Isto prova-se facilmente com o exemplo da Apple. Esta empresa tem um enorme programa de compra de acções próprias (buy-backs), sendo uma boa parte desse capital das buy-backs detido pelos "amigos dos pobres". O caso de Warren Buffet, que já há uns anos solicitava que lhe fossem cobrados mais impostos, é outro exemplo. Mas há mais.



 


 Neste último gráfico vemos que as acções da Apple estagnaram em 2015, com um valor de mercado de cerca de 71 mil milhões de dólares. Entre 2010 e 2019, a capitalização subiu 250% e o preço das acções em bolsa subiu mais de 1200% entre 2010 e Junho de 2020.

Os accionistas e gestores da Apple estão muito agradecidos à Reserva Federal americana, pudera! Há cerca de um mês atrás Warren Buffet dizia, com sarcasmo e ironia à mistura, que a Reserva Federal fizera um bom trabalho e tomara medidas sem precedentes para manter a economia americana estável face à crise do vírus.

Estão a ver o tamanho da fraude? estão a ver a cosmética financeira aplicada para que os altos lucros de investidores, gestores e administradores se mantenham? deixo-vos aqui um último gráfico e tirem as vossas conclusões...



 
 
  
 


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