Os anos entre 1840 e 1848 foram anos de verdadeira loucura, poderíamos até dizer que foi uma época que atingiu foros de verdadeira demência colectiva. Perante os ataques descabelados a D. Miguel acusado de um sem fim de desgraças, o mesmo era rei de direito e não usurpador como já foi falado num post anterior, surgia assim o legitimismo, formação política que visou defender os direitos dinásticos de D. Miguel. Direitos esses que estavam a ser postos em causa e o banimento de D. Miguel e da sua descendência estava a ser congeminado nos bastidores. A Nação (1845) e depois A Gazeta (1895) foram os seus órgãos na imprensa. Dos seus princípios: «Deus, Pátria e Rei» foram arautos os fundadores do Integralismo Lusitano já no século XX. Depois de 1851, com a Regeneração, os legitimistas unem-se em verdadeiro êxodo para os regeneradores.
Em Abril de 1846 deflagrou no termo de Vieira do Minho a Revolução da Maria da Fonte, mais uma, iniciada por um grupo de mulheres lideradas por uma tal de Maria da freguesia de Fonte Arcada, protestando contra as novas leis de saúde que proibiam os enterros nas igrejas, como sempre se fizera. Tudo servia para protestar, tudo era pretexto para se fazer uma revolução. É mais do que provável, é aliás mais do que certo que havia interesses em instigar a rebelião, e tudo o que não estivesse em consonância com os velhos costumes, aliado à grande credulidade das gentes dessa época, era o rastilho certo para despoletar revoluções. Uma força de infantaria partiu de Braga para repor a ordem, mas depressa se formaram novas rebeliões e guerrilhas um pouco por todo o lado. Este movimento subversivo teve como intenção, com o passar do tempo, de restaurar D. Miguel no trono.
Com toda esta confusão Costa Cabral foi obrigado a deixar o governo e a exilar-se, sendo chamado para o substituir o duque de Palmela, cujas suas intenções passaram, numa primeira fase, por remedias as asneiras do odiado Cabral. Palmela promulgou uma nova lei eleitoral ao mesmo tempo que marcava eleições para Outubro desse ano (1846). A efervescência política era enorme, alimentada pela Associação Eleitoral de Lisboa, que pedia eleições directas e se advogava que a «soberania» nacional promulgada na constituição era a única origem de toda a autoridade política. Mas as conspirações miguelistas não cessavam, respondendo a isto o governo com a entrada de dois setembristas para novos ministérios, o marquês Sá da Bandeira e Silva Sanches.
No entanto, a aparente calma do país sofria novo volte-face com a rainha D. Maria II, no dia 4 de outubro de 1846, a chamar Palmela e a comunicar-lhe a sua demissão, sendo substituído no cargo por Saldanha. Eram suspensas as eleições. A isto respondeu o Porto com a Patuleia.
Mal se soube no Porto da Emboscada e que a rainha despachara o duque da Terceira, a rebelião foi inevitável e um coro de vozes se levantou contra o acto de traição com a consequente onde de revolta a tomar conta da cidade e seus arredores.
José de Passos, presidente da Câmara do Porto, conjuntamente com outros elementos setembristas, constituem a "Junta Provisória do Governo", cujo presidente era o 1º conde das Antas, o general Francisco Xavier Pereira da Silva que se batera galhardamente nas campanhas da liberdade. Uma delegação da junta do Porto foi enviada a Lisboa, acreditando os patuleias que a rainha fora forçada a dar o golpe de outubro de 1846 (Emboscada) e que tudo não passara de manobras dos cabralistas para voltar ao poder.
Mas desta vez enganaram-se porque as coisas não se passaram assim. D. Maria II agira por sua conta e risco, e como os patuleias não quiseram ver as coisas deste modo, fracassaram. No Minho, em Trás-os-Montes, nas Beiras e no Alentejo também se formaram juntas provisórias do governo. O Ministro Saldanha mandou prender muitas pessoas, em especial, os cabecilhas dos movimentos das diversas regiões. A luta entre o governo e os patuleias continuou durante oito meses. Uma esquadra comandada pelo conde das Antas foi capturada à saída do douro por navios ingleses que acudiram ao chamamento de D. Maria II, cujo objectivo era atacar a Corte instalada em Lisboa. A intervenção estrangeira foi manobrada por Costa Cabral aquando do seu exílio em Madrid. As tropas espanholas invadiram o país por Trás-os-Montes e pelo Alentejo e as costa marítima portuguesa era bloqueada pela marinha inglesa, impedindo a saída ou entrada de qualquer movimento subversivo. De seguida as potências intervencionistas enviam a José de Passos, vice-presidente da junta do Porto, um ultimato para que as tropas deponham as armas. Chegou-se depois a um acordo, conhecido por convenção do Gramido colocando fim à guerra civil.
Os ódios, as insanidades, o desrespeito, a falta de credibilidade das instituições e dos políticos, a ausência de justiça e de leis válidas e sobretudo e mais importante que tudo, a falta de unidade do povo português não permitiam que o país resolvesse os seus problemas e, mais uma vez, que não seria a última, os problemas só se resolviam com intervenção exterior. As feridas da Revolução liberal de 1820, a guerra civil de 1832/34, as lutas pelo poder que se seguiram, as desordens generalizadas fruto de uma sociedade dividida, desunida e que nunca curou devidamente as feridas contribuíram para o atraso de Portugal, atraso esse que ainda se mantém (em menor grau, mas assumindo outras formas) passados quase 200 anos.
Percebem agora, ou começam a perceber porque está Portugal atrasado?? Percebem agora os sectores extremistas de esquerda que as suas teorias são completamente falsas e ilusórias, quanto aos problemas estruturais de Portugal e que o seu atraso crónico começou no século XIX??? Se não percebem ou não começam a perceber é porque são como "esteios", expressão muito usada na minha região, ou então são burros que comem palha, porque também há os que não comem!!
Comentários
Enviar um comentário