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O cabralismo, a belenzada e a colizão

 A história do século XIX português é a típica história da "casa de tolos". Depois da implantação definitiva do liberalismo (1834 em diante), as lutas pelo poder e pelos "tachos políticos" não mais cessaram. Dir-se-ia que o país vivia em constante rebelião sempre que os devoristas não conseguissem os seus intentos.

O sistema político posto em prática por Costa Cabral ficou conhecido por "Cabralismo", causando muitos engulhos e "alarvidades" próprias de uma democracia coxa, sem estatuto reconhecido, sem verdade de fundo, sem qualquer tipo de preparação prévia.

 

Costa CabralOs irmãos António Bernardo e José Bernardo foram figuras destacadas na vida política do reinado de D. Maria II. Ambos de formação liberal e formados em Direito. Depois da entrada em vigor da constituição de 1838 (setembrismo), António Bernardo é ministro da justiça, afastando-se progressivamente do setembrismo para se aproximar dos cartistas, proclamando a restauração da Carta Constitucional de 1826 e assumindo ainda as funções de ministro do Reino até 1846. A revolta da Maria da Fonte derruba-o e leva-o ao exílio. Volta ao país em 1849 voltando a ocupar os seus antigos cargos, até à revolta militar de Saldanha em 1851 (Regeneração).

Vivia-se de revolução em revolução, de loucura em loucura, desbaratando as finanças do país ao mesmo tempo que se contribuía para o inexorável atraso do mesmo.

O golpe de Estado contra-revolucionário conhecido por belenzada, parcialmente malogrado, foi concebido pelo rei Leopoldo da Bélgica, na intenção de receber como recompensa uma possessão portuguesa em África. Foi levado a cabo entre 2 e 4 de novembro de 1836 pela rainha D. Maria II, após entendimento com o partido cartista e o representante diplomático de Inglaterra, Howard de Walden, para tentar acabar com o setembrismo e os sectores mais profundos da esquerda que pretendiam a destruição do país. A soberana, instalada no palácio de Belém, reúne o governo para o demitir e prender os seus membros. Mas as coisas não correram como planeado, o povo sai à rua em armas para defender os governantes e Agostinho José Freire um dos cartistas e aliados da rainha, que se dirigia para Belém na madrugada do dia 4 de novembro, foi chacinado pelo povo. D. Maria II foi obrigada a ceder, conseguindo um compromisso entre as tendências conservadoras (cartistas) e revolucionárias (vintistas). No entanto, este acordo pouco durou, porque a luta pelo poder e os "rapa-gamelas" não se coibiam de se degladiarem em praça pública. Apenas em 1847, com a convenção do Gramido, as facções rivais estabeleceram tréguas.

Mas ainda antes de 1847, deu-se a coalizão de 1843. Movimento este que consistiu numa união de setembristas, cartistas liberais e miguelistas (3 de agosto de 1843) para tentar chegar ao poder. O governo vigente considerava-os infames, dizendo que a sua pretensão resumia-se a destronar a rainha e a esfrangalhar a Carta Constitucional. Acusaram ainda Passos Manuel e o Júlio, saídos da Revolução setembrista, de delapidadores e dissipadores dos bens públicos. 

Como se vê, ninguém se entendia, o país vagueava ao sabor das loucuras e dos caprichos dos diversos interesses, não havia lei nem justiça, o país estava a saque e uma série de quadrilhas de bandidos assaltava, esfolava e matava sem que nada nem ninguém lhes fizesse frente.

 

Continua.


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