Este mais recente conflito europeu tem a sua origem muito atrás no tempo. Na verdade, o início da Rússia propriamente dita, como país autónomo, começou nesta região com o chamado Rus de Kiev no século IX, que mais tarde se desenvolveria sob a dinastia dos Jagelões que também governaram a Polónia e o grão-ducado da Lituânia. O Rus de Kiev foi o primeiro Estado eslavo no leste europeu, do qual se originaria a Bielorússia, a Rússia e indirectamente a Ucrânia. Mais tarde ainda, a região transformou-se no Grande Ducado de Kiev. Historicamente e culturalmente a região em si é russa, e nada a fazer relativamente a isso.
Jaroslav I o Sábio van Kiev, Grão-Príncipe de Novgorod e Grão-Príncipe de Kiev:
Jaroslav I, o Sábio (Yaroslav Mudryi) (?, Kiev - 1054, Kiev), (eslavo oriental: Ярослав Мудрый; nome cristão: Jorge; nórdico antigo: Jarizleifr; também citado como Yaroslao), foi três vezes Grão-Príncipe de Novgorod e Grão-Príncipe de Kiev, unindo por algum tempo ambos os principados sob seu governo. Durante seu longo reinado, o Principado de Kiev alcançou o auge de seu florescimento cultural e poder militar.
Antes de Jaroslav assumir o poder, seu pai Vladimir I de Kiev "o Grande" (979 - 1015), desposa Ana, irmã do imperador bizantino Basílio II, e converte-se ao cristianismo, que passa então a ser a religião oficial do estado.
A obra de Vladimir tem continuidade durante o reinado de Jaroslav. No entanto, este teve que lutar para conseguir governar. Primeiro lutando contra seu irmão mais velho, Esviatopolque, para tornar-se Grão-Príncipe de Kiev em 1019 e assumindo o controle exclusivo apenas após a morte de seu outro irmão, Mistislau, no ano de 1035 que não deixou descendentes.
Jaroslav transforma Kiev numa grande metrópole, constrói igrejas, funda bibliotecas e prepara o primeiro código de leis do mundo eslavo. O cristianismo triunfa no reinado de Jaroslav, mas o príncipe considerava importante a existência de padres que falassem russo para que a religião fosse mais acessível, mas Bizâncio não os podia fornecer, facto que fez com que Jaroslav organizasse a formação de uma igreja nacional com clero autónomo.
O Estado de Kiev torna-se um dos centros culturais mais importantes da época. Apesar de tudo, o reinado de Jaroslav dá lugar a um período de grande instabilidade, com o seu Estado ameaçado por povos nómadas das estepes. Outras populações eslavas começam a pressionar nas fronteiras e uma nova ordem surge na região.
Mapa do antigo principado de Kiev.
Depois da época de Jaroslav e durante os séculos seguintes, o território hoje conhecido como Ucrânia foi controlado por polacos, lituanos e mongóis, ou seja, em momento algum da história houve uma identidade ucraniana definida ou um território ucraniano independente. Depois da ascensão de Kiev a Grão Ducado de Kiev no século XVIII, o território fazia parte do Império Russo. Toda a zona junto ao Mar Negro durante a Idade Média e a Idade Moderna, e até mesmo na era contemporânea, passou por um processo de "russificação". O que quer dizer o seguinte: as populações dessa zona sempre sofreram influência russa e consideram-se mais russos do que qualquer outra coisa. Também nada há a fazer relativamente a isto.
Não é de hoje que grupos pró-Moscovo defendem abertamente uma confederação para refundar a Nova Rússia e o próprio Putin por várias vezes se referiu à questão. A Nova Rússia incorporava as regiões separatistas do leste da Ucrânia em disputa mais a Crimeia. Ignorar isto é ignorar tudo o resto. Putin pode ser doido, fanático e tudo mais, mas não é burro e sabe alguma coisa de história. Não estou a defendê-lo nem a atacá-lo, simplesmente tento colocar a ordem histórica dentro dos seus parâmetros correctos.
Mapa da Nova Rússia.
Com o fim do czarismo na Rússia e a consequente Revolução russa de 1917, o território ucraniano, assim como a Nova Rússia, foram incorporadas na URSS e assim permaneceram até 1991. Quanto à questão da Península da Crimeia, o erro de Kruschev de tirá-la do controlo russo para passar a ser controlada pela Ucrânia foi fatal. E o problema começou precisamente aqui, no já longínquo ano de 1954. Estrategicamente falando, o porto de Sebastopol que permite um fácil acesso ao Mar Negro sendo a base de uma das principais unidades da Marinha russa desde o século XVIII, é condição importantíssima em toda esta disputa. Mas ninguém fala disto. E quando aqui digo ninguém, refiro-me a analistas políticos e a políticos em geral.
A partir de 2014 aconteceu aquilo que todos sabemos, o líder efectivo do país Victor Yakunovich, teve de fugir para a Rússia por causa de um golpe de Estado na Ucrânia supostamente a coberto de interesses pró-Europa ocidental. Foi neste ano que Moscovo começou a imiscuir-se nos assuntos ucranianos e recuperou a península da Crimeia. A partir daqui a escalada de tensões não mais parou e aconteceu o que já de há muito se previa. A guerra. A ver vamos os próximos desenvolvimentos.
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