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O apodrecimento do sistema

 Existe um mal-estar mais do que evidente na sociedade actual, embora de difícil definição, ele é implícito numa série de atitudes, formas de estar e de pensar a realidade. Reflexo, muito naturalmente, de tudo estar baseado num individualismo feroz, do «salve-se quem puder» e do utilitarismo no seu grau máximo.

A expressão de cariz cristão: «um novo céu e uma nova terra» nunca teve tanto significado como hoje, e o seu real sentido está bem à vista. 

Já não há sentido de comunidade, tudo e todos são alvos a abater, a ultrapassar, a suplantar, numa espécie de competição anárquica onde os valores não contam para nada. O sistema bem se encarrega de arranjar e produzir novas formas de alienação, seja pelo método do consumo desenfreado, seja pelo método da indústria do entretenimento, a forma perfeita (para o sistema) de fornecer emoções artificiais à humanidade robotizada nos seus objectivos e métodos. Temos aqui bem patente a descontinuidade entre a realidade efectiva e a realidade alternativa de que falava Eric Voegelin nos seus escritos. A esta descontinuidade segue-se a decepção do mundo e da vida com o consequente escape ao mundo, ou seja, doses industriais de fármacos, drogas legais e não legais, condicionamentos psiquiátricos, para que a sociedade aceite a vida anti-natural que leva e que o sistema continuamente publicita como sendo algo de bom e necessário.

O utilitarismo e o hedonismo são reis e senhores. Os homens são hoje "cobaias" que apenas são úteis enquanto podem produzir e trabalhar. Basta ver como são tratados os desempregados e os idosos, especialmente estes últimos, o estatuto menorizado que lhes foi conferido. Vivemos para encher os bolsos de meia-dúzia de indivíduos e estamos aprisionados num ciclo vicioso de trabalho/pagamento. Trabalha-se não no sentido clássico de elevação espiritual e de deleite criativo, apenas se trabalha para se ganhar o dinheiro que de seguida servirá para encher os bolsos dos DDMT (donos desta merda toda). Que ninguém se iluda, o salário não existe para o bem-estar do homem, existe para satisfazer as necessidades do sistema enquanto padrão de troca. Nem mais nem menos! O benefício que dele retiramos é apenas marginal e limitadamente consequente, para que o sistema continue a funcionar e para que meia-dúzia de gajos continuem a enriquecer barbaramente debaixo das barbas de toda a gente. É apenas e quando muito um instrumento de dominação!

Já não há passado nem presente, ou seja, já não há tradição, no sentido em que o presente se fundava no passado e nos seus exemplos para se poder projectar um futuro com futuro e esperança. Vivemos num constante presentismo, ávidos de poder consumir hoje o que eventualmente não o poderemos fazer amanhã. O Carpe Diem provocou o fim do sentido da história e provocou um corte nas nossas raízes, levando-nos a ver e pensar o mundo de um modo totalmente anti-natural. 

O homem é por natureza um ser de paixões e um conquistador. O esforço é a sua mola de acção, e sempre que o esforço e a resiliência são relegadas para segundo ou terceiro plano, o homem decai. Não faltam exemplos desses ao longo da história. Penso que não é necessário aqui citá-los. Como o sistema não pode contrariar a biologia e os determinismos da condição humana, tratou-se então de desviar a atenção dos homens para o supérfluo, para o consumo de coisas maioritariamente desnecessárias e estabeleceu-se uma rotina conformista em todos os campos da sociedade. Todo o povo, todo o homem, toda a sociedade que não se esforça, decai. Mais do que uma evidência, o decaimento da sociedade é repetitivo porque a história é circular, repete-se com maior amplitude e sempre com um espectro mais alargado. 

A vida anti-natural está bem à vista quando o sistema fornece, de modo dissimulado, todas as taras, todos os prazeres, todos os vícios e todas as emoções artificiais. Aprende-se e executa-se apenas e só o que interessa ao sistema, as utopias estão aí, ao virar da esquina, como promessas sempre presentes e inacabadas de um falso moralismo e de uma falsa prosperidade.

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