O que é o fascismo? Esta pergunta tão simples quanto enigmática está hoje muito em voga, considerando que a própria constituição, num dos seus primeiros artigos proíbe a existência de partidos fascistas, mas não esclarece o significado de fascismo, e hoje o termo serve de arma de arremesso político por parte de partidos, sobretudo, de extrema-esquerda.
Um dos primeiros trabalhos sérios em Portugal sobre o fascismo foi dado à estampa pelo diplomata e advogado Valentim da Silva (25-03-1875/11-11-1947) que, pelos vistos, assistiu em pessoa ao aparecimento do movimento em Itália. É um trabalho sério, descomprometido, objectivo e bem documentado, sem julgamentos de valor e totalmente desapaixonado.
Descreve o ensaísta a situação política de Itália desde o princípio do século XX até às vésperas da 1ª Grande Guerra:
«Num ambiente de artificioso parlamentarismo, sem correntes de definidos princípios, vivendo na subserviência das clientelas, os partidos constitucionais, logo no começo do século XX, entravam num período de decomposição». [é assustador o paralelismo com a nossa actual época]
A partidocracia (tal como hoje acontece, em Itália, em Portugal ou em qualquer outro país) punha tudo em putrefacção e o fermento da demagogia socialista tentou impedir a participação da Itália na guerra. De modo leviano e insensato queixava-se (o partido socialista italiano) do desprezo a que fora votado pelos aliados nas conversações de paz. Mas mesmo assim, não se coibiram de expulsar os patrões das fábricas, com as naturais consequências nefastas que se seguiram. A este propósito diz Valentim da Silva:
«Estavam de facto os operários senhores dos instrumentos de produção, dando assim seguimento e objectivação ao dogma marxista. O colectivismo revolucionário ensaiava os primeiros passos, mas que de proveitoso daí resultava? Passadas semanas, essas fábricas não laboravam, porque o operário, entregue a si mesmo, ficava sem força dirigente que lhe disciplinasse o esforço; não laboravam porque não tinham matérias-primas que as alimentassem; não laboravam porque lhes faltava o capital que as impulsionasse; não laboravam e por isso nada produziam, tornando-se não fontes de rendimento, mas valores inúteis sem significado económico».
Eis o desmanchar da utopia que o próprio Lenine confessava nos últimos dias de sua vida, escrevendo no jornal Krasnaia Nov: «Um proletariado não pode desenvolver-se sem auxílio do capital, e este antes de ser um inimigo é um aliado necessário; um estado inevitável. Basta de ilusões; é ridículo fechar os olhos à verdade». Poderíamos chamar a isto "O Rebate da consciência de Lenine".
Mas continuava Valentim da Silva no seu ensaio:
«Nesse ambiente se enquadravam as violências próprias da hora das desordens, com especial relevância em Bolonha e em Ferrara, onde se mata e saqueia em nome do comunismo triunfante! Em Turim, as agressões a oficiais que vieram da guerra são constantes, o ministro da guerra ordena aos oficiais que se defendam à mão armada. Numa província do norte há, todos os dias, incêndios lançados pelos socialistas, cujos prejuízos são avaliados em 11 milhões de liras. Em 1920 chegam a estar em greve 1045733 trabalhadores rurais e 1267935 operários, isto é, quase 2 milhões e meio de homens em agitação».
É sabido, mais do que sabido, que os comunistas e grupos aparentados chamam fascista a tudo o que seja contrário às suas utopias. E aqui não se esqueceram de incluir o Nacional-Socialismo do Terceiro Reich e o Fascismo italiano, a partir do momento em que estes deixaram de ser seus aliados contra as democracias Ocidentais e a propaganda moscovita deixou de os enquadrar, com fizera até aí, nos estados de trabalhadores. É preciso compreender, antes de mais, que o fascismo em Itália surgiu num contexto muito próprio de bagunça generalizada e desrespeito à ordem vigente, ou melhor, a perpetuação da ausência de ordem. Claro que o comunismo viu na ascensão fascista em Itália um concorrente de peso para fazer valer as suas ideias e utopias, mostrando-se assim necessário denegrir o movimento. A única dificuldade estava apenas em baralhar tudo na confusão detestável, gritando continuadamente as mesmas acusações conforme a técnica da lavagem de cérebros colectiva. Não foi por acaso que os marxistas chineses começaram a chamar social-fascismo ao comunismo russo.
Ou seja, a máxima mantinha-se, manteve-se e ainda se mantém: fascismo é tudo o que for contra nós; fascismo é tudo o que seja contrário às nossas crenças e ideais; fascismo é tudo o que belisque e ponha em causa as nossas utopias.
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