Avançar para o conteúdo principal

O herdeiro do estalinismo

 O mundo inteiro, ou quase, ficou pasmado com o discurso de Putin no passado dia 9 deste mês. Estamos em presença de um fenómeno perfeitamente identificável com o estalinismo. Um certo fundo filosófico, infelizmente já bem antigo e deformado de forma monstruosa por Estaline, foi novamente resgatado das profundezas do antigo regime soviético.

A tradição literária russa fazia, com efeito, do diabo personagem indomável que nunca é mencionado mas que na sombra fornecia a chave para a resolução e compreensão da trama do romance. Gogol, antes da sua conversão, não deixou de interessar pelo tema com o seu indiscutível génio. Dostoievski disse-o de forma magistral, procurando através da via da mentira monstruosa a voz da verdade.

 

 2205119 de maio em Moscovo, flanqueado pelo seu Estado Maior de múmias brejnevianas Putin justifica o injustificável (tradução da legenda)


Quando a mentira se torna desconcertante, não apenas se trata os interlocutores de imbecis e se tenta humilhá-los, como a predisposição para o mal é bem patente. Dizer que os ucranianos são os responsáveis pela guerra porque ousam dificultar a marcha triunfal de Moscovo, é o mesmo que dizer: «Os responsáveis pela agressão não são os agressores, mas os agredidos quando os mesmos têm o desplante de resistir».

A guerra agressiva levada a cabo pelos russos contra a "velha terra ucraniana", é publicitada por Moscovo, mesmo contra as evidências, como se ela fosse uma guerra de libertação dos infelizes russófonos oprimidos pelos malvados nacionalistas ucranianos. É essencialmente isto que se retira do discurso patético de Putin no passado dia 9 de maio. 

Costuma dizer-se que existem três tipos de mentira: a mentira propriamente dita, a mentira monstruosa e a estatística. O discurso de Putin enquadra-se na segunda categoria.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O marquês de Pombal, o analfabetismo, o atentado a D. José e a fraude pandémica

O atraso de Portugal, quer a nível económico, quer a nível social ou a nível cultural, começa em meados do século XVIII. Passada a fase de grande prosperidade com D. João V e a chegada ao poder de D. José I, a liberdade e a alfabetização de Portugal sofreram um grande retrocesso. Esta tendência "suicida" de destruir o bom que já vinha de trás é paradigmática do processo de involução que este país tem vindo a sofrer desde há pelo menos 300 anos. A fase de fraude pandémica é apenas o corolário lógico de um acumular de farsas e mentiras. Quando os factos são conhecidos, não há surpresa quanto ao atraso de Portugal relativamente à Europa civilizada.  O nosso atraso nada tem a ver com a religião católica como de modo totalmente leviano e com uma boa dose de ignorância se afirma nos livros de história, tese partilhada e difundida por muitos historiadores. O nosso atraso começa com um dos maiores crápulas da nossa história, precisamente, o marquês de Pombal. Afirmar que os país...

A ambiguidade do termo racismo

 Segundo a Grande Enciclopédia Universal (vol. 16, p. 11025), o termo racismo apenas se popularizou como neologismo com a obra de J. A. Gobineau, editada em 1853 e intitulada "Sur L´inégalité des races humaines", que serviria de ponto de partida e de aprofundamento do tema de outro livro, considerado o clássico dos livros ditos racistas, "Die Grundlagen des neuzehnten Jarhunderts", escrito pelo germanizado H. S. Chamberlain. Esta obra serviu mais tarde para postular as posições racistas e de raça superior do Terceiro Reich. Não obstante, e no caso português, o termo apenas se generaliza nos dicionários a partir da década de 1960. Antes dessa época são muito poucos, escassos mesmo, os dicionários que incluem o termo. O termo é definido como: «Exacerbação do sentido racial de um grupo étnico», ou seja, a celebração da raça ou o culto da raça, enquanto entidade geradora de sentimentos fortes de pertença a uma comunidade de indivíduos unidos por laços de sangue e por um...

O maior espectáculo desportivo do mundo

 Para não falar aqui de coisas tristes, saloias e sem sentido, características, de entre outras, da sociedade de MERDA em que actualmente vivemos, venho aqui dar à estampa o 4 Nações, agora renomeado de Rugby Championship ou Sanzaar, disputado pelas quatro potências do hemisfério sul, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e África do Sul. Disputaram-se esta manhã (hora portuguesa e europeia) os jogos da 1ª jornada. No jogo Nova Zelândia - Argentina, estes últimos voltaram a ganhar um jogo aos All BLACKS, 30-38 a favor dos PUMAS, o que não acontece muitas vezes. Foi um grande jogo de rugby, intenso, bem jogado com belas jogadas à mão, e a Argentina que esteve a maior parte do jogo a perder, conseguiu dar a volta já nos últimos 10 minutos de jogo. Mas diga-se que foi merecido, Com um Santiago Carreras de alto nível. No outro jogo a África do Sul impôs-se facilmente aos australianos que jogavam em casa, 33-7, jogo não tão espectacular, bem longe disso, mas diga-se que a Austrália, já de...