O mundo inteiro, ou quase, ficou pasmado com o discurso de Putin no passado dia 9 deste mês. Estamos em presença de um fenómeno perfeitamente identificável com o estalinismo. Um certo fundo filosófico, infelizmente já bem antigo e deformado de forma monstruosa por Estaline, foi novamente resgatado das profundezas do antigo regime soviético.
A tradição literária russa fazia, com efeito, do diabo personagem indomável que nunca é mencionado mas que na sombra fornecia a chave para a resolução e compreensão da trama do romance. Gogol, antes da sua conversão, não deixou de interessar pelo tema com o seu indiscutível génio. Dostoievski disse-o de forma magistral, procurando através da via da mentira monstruosa a voz da verdade.
9 de maio em Moscovo, flanqueado pelo seu Estado Maior de múmias brejnevianas Putin justifica o injustificável (tradução da legenda)
Quando a mentira se torna desconcertante, não apenas se trata os interlocutores de imbecis e se tenta humilhá-los, como a predisposição para o mal é bem patente. Dizer que os ucranianos são os responsáveis pela guerra porque ousam dificultar a marcha triunfal de Moscovo, é o mesmo que dizer: «Os responsáveis pela agressão não são os agressores, mas os agredidos quando os mesmos têm o desplante de resistir».
A guerra agressiva levada a cabo pelos russos contra a "velha terra ucraniana", é publicitada por Moscovo, mesmo contra as evidências, como se ela fosse uma guerra de libertação dos infelizes russófonos oprimidos pelos malvados nacionalistas ucranianos. É essencialmente isto que se retira do discurso patético de Putin no passado dia 9 de maio.
Costuma dizer-se que existem três tipos de mentira: a mentira propriamente dita, a mentira monstruosa e a estatística. O discurso de Putin enquadra-se na segunda categoria.
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