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A quem serviu e serve o 25 de abril?

 Esta pergunta feita assim desta forma poderá indiciar a muitos leitores que foi e sou contra a data, ou melhor, contra a efeméride. Não é bem assim, nem essa é a minha intenção, mas também não lhe tenho grande amor nem lhe dou o valor que muitos querem fazer crer que tem, não significando isto que seja salazarista.

Diz-se por aí que foi o dia em que os portugueses puderam passar a dispor de liberdade. Mas, ¿o que é a liberdade? É que são muito poucas as pessoas que dão uma resposta coerente e séria sobre o tema. Liberdade tem de ser muito mais do que poder fazer isto e aquilo, ir ali ou acolá, dizer o que nos der na real gana, opinar sobre os mais diversos temas e assuntos, etc, etc, etc


A liberdade em si é tão antiga quanto a humanidade, existe desde sempre. O homem é livre quando pode dispor de si próprio. O livre-arbítrio humano compõe-se de liberdade. O próprio exercício do livre-arbítrio é um exercício de liberdade. Se o criador não quisesse fazer o homem livre não lhe teria dado o livre-arbítrio. Mas claro que o livre-arbítrio, por si só, é um exercício de liberdade, mas de liberdade de indiferença, ou seja, é um tipo de liberdade que muitas vezes e em situações específicas pode colidir com a liberdade de outros, gerar conflitos, desentendimentos e disputas e guerras em casos extremos.

Quando alguém decide se acorda mais cedo ou mais tarde; se vai dormir de costas ou de barriga, para o lado esquerdo ou direito; se em determinado dia vai andar ao sol ou ficar à sombra; se em outro dia diferente, de chuva por exemplo, vai andar a ela ou ficar abrigado; se hoje come bananas e amanhã maçãs e depois cerejas e a seguir laranjas, uma infinidade de situações e escolhas que revelam a liberdade do homem.

Agora a questão é a seguinte: existem várias ordens de liberdade, vários graus de liberdade e vários sentidos de liberdade. É preciso definir de que tipo(s) de liberdade(s) se fala quando se aborda o tema. Uma coisa é a liberdade política, por exemplo, que molda e dá sentido a todas as outras liberdades. Sem liberdade política não existe, nem pode existir, qualquer outro tipo de liberdade. 

É muito provavelmente a falta de liberdade política, mais do que de acção e movimentos, que se considerava faltar no tempo do Estado Novo. Não é propriamente que ela faltasse, antes estava condicionada por vários factores. Por outro lado, e para evitar situações de conflitos de interesses e disputas, a liberdade tem de estar sujeita à lei, ou melhor, deve ser enquadrada e definida por actos legais, porque essencialmente, na ausência de leis ou de mecanismos reguladores do exercício da liberdade cada um faria o que muito bem entendesse e nada respeitaria originando-se assim disputas, conflitos, desentendimentos, o que aliás, vamos vendo um pouco por todo o lado. Por mais paradoxal que isso possa parecer em plena era das liberdades a molho, ao cesto, à carrada!!!

Mas lá está, quando a liberdade manifesta ausência de leis reguladoras, leis essas que em certo sentido podem limitar o exercício da liberdade, não há liberdade válida e respeitadora dos mais básicos valores humanos, tal como a lei pode limitar o exercício pleno da liberdade, a lei também é condição para que a liberdade exista e se manifeste como tal e não uma balbúrdia de vontades, apetites e interesses contraditórios. 

 

Feito aqui um preâmbulo sobre a questão da liberdade, falemos agora um pouco sobre o 25 de abril. ¿A quem interessou o mesmo? À soicedade portuguesa no seu conjunto? Nada mais falso. E isso é fácil de ver, basta utilizar a cabecinha.

Sabe-se que houve uma série de circunstâncias que facilitaram o golpe (golpada). Desde logo, para além de outros motivos já conhecidos, a tibieza de Marcelo Caetano, por exemplo, a pungente questão das Forças Armadas com as querelas sobre os milicianos acederem ou não ao quadro permanente de oficiais, a própria questão de os oficiais quererem que os milicianos frequentassem a Academia Militar, tal como eles o fizeram e com o mesmo período de tempo e a questão logística que se arrastou durante muito tempo; a falta de condições e o armamento desactualizado que usufruíam. Para além da própria questão remuneratória, considerada insuficiente em teatros de operações muito perigosos (Ultramar). Como se vê, liberdade e democracia para o povo foi apenas um padrão de troca momentaneamente necessário para que estas reivindicações não ficassem a arder no ar em dia de nevoeiro... PS e PCP aproveitaram-se deste cenário em proveito próprio enganando o povo com promessas que os mesmos nunca quiserem nem tinham pretensão de cumprir (o tal padrão de troca necessário...). 

O mais engraçado disto tudo (salvo seja) é as pessoas pensarem e acharem que os políticos, sejam os da época ou os actuais, e demais agentes económicos estarem muito preocupados com a nossa segurança, bem-estar e evolução. Desenganem-se, não estão. Nunca estiveram e nunca vão estar. Aliás, as classes políticas odeiam o povo, na mesma medida que o povo os odeia. Isso é cada vez mais visível. Assim, chegamos à conclusão que o 25 de abril serviu para interesses muito contrários aos inicialmente estabelecidos (o tal padrão de troca necessário, sempre...), e hoje passados quase 50 anos sobre o acontecimento, basta ver e analisar o que se passa e vai passando. Se isto é exercício de liberdade (fraudes contínuas, corrupções, esquemas, nepotismos, guerrilha verbal, interesses privados sempre a montante dos interesses públicos, etc, etc, etc), então fomos muito mal informados sobre o conceito em si, e o mesmo precisa de uma redefinição dos seus termos e significado de modo urgente.

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