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Ainda a Revolução Inglesa

 As interrogações sobre a Revolução Inglesa são tantas que as respostas tanto dos economistas como as dos historiadores estão cheias de perspectivas antagónicas. Há quem defenda a complexidade pura e dura. Há quem pense que apenas três factores essenciais se debateram na questão propriamente dita: população, colheitas e comércio marítimo. O que em boa verdade me parece, a mim e a muitos outros, factores muito subvalorizados. Outros aspectos entram aqui na liça, como já abordado no post anterior.

 

Revolução inglesa e industrial Carlos I no cadafalso.

 

A questão do comércio colonial tem (teve) um factor altamente dinamizador: a Companhia das Índias Ocidentais e a América do Norte, que tiveram um papel preponderante de 1763 em diante, o que levaria Inglaterra a "arrancar" definitivamente em 1780, tomando a dianteira sobre todos os reinos europeus.

A guerra da independência (americana) não lhe fez perder o mercado das antigas colónias, bem pelo contrário, havendo entre os dois mercados uma estreita dependência económica. Tudo isto originou aquilo que Chaunu (A Civilização da Europa das Luzes, II, 1995, p. 27) chama de «fronteira tecnológica», que é 80% inglesa. Nenhum reino europeu terá sido, como Inglaterra, entre 1780 e 1800, um foco de invenções tão coerente e tão autónomo. Isto tem uma explicação e uma justificação muito claras; a Europa das luzes não terá sido, melhor do que a França, a Inglaterra?

O horizonte de 80 foi ali mais precoce, mais revolucionário, mais profundo e dinâmico. Em síntese, o empirismo sobrepôs-se ao apriorismo racionalista, porque o empirismo é eminentemente prático. Arrastou à sua frente transformações tecnológicas com a expansão do maquinismo mais ainda do que a Revolução Industrial propriamente dita. Entre 1760 e 1830, primeiro em Inglaterra, depois em França, nos Países Baixos e só depois na Alemanha. A que se seguiu um avanço rápido, firme, acelerado, de uma «fronteira tecnológica» que deve quase tudo à rapidez da comunicação, ao arrastamento, à observação, à vontade de obter algo de melhor, embora modesto, algo de mais preciso e concreto que se reflectiu num maior bem-estar, associado aos interesses dos capitais por essa nova fronteira.

Progresso científico na época da filosofia mecanicista e progresso técnico participaram de um mesmo clima mental colectivo. Mas o progresso técnico até 1830, nada deve à ciência, é o contrário; deve muito mais a ciência ao progresso técnico. Basta ver a questão da indústria têxtil e analisar a história das invenções da mesma. Ela deve a sua mecanização, recorrendo às suas primeiras tentativas de modernização e construção de máquinas para a sua utilização industrial, quase um século e meio antes da «fronteira tecnológica» e da Revolução Industrial.

Tudo vem da indústria têxtil, segundo diversos autores. O ponto de partida remonta aos últimos anos do século XVI, quando foi inventado o tear de tricotar meias (stocking-frame), invenção de um graduado da Universidade de Cambridge, William Lee, no ano de 1598. O século XVII tirou pouco partido do mesmo, continuou a investigar no domínio das sedas, faltando os capitais e o clima mental criado pelo lento declive da filosofia mecanicista. Tudo se jogava em torno do algodão, com os interesses dos lanifícios a manter-se e o Parlamento a proibir os algodões indianos. Deste facto derivou todo um conjunto de respostas que beneficiaram a lã e o algodão, abalo este que resultou na massa crítica de transformação, a lançadeira, invenção que foi a origem de todas as outras. O ganho da produtividade passou a ser maior, mas, numa primeira fase ninguém o queria. Ninguém o queria porque as estruturas existentes foram postas em causa pelas contínuas invenções, e foram precisos mais um século de estudos e investigações para resolver o problema da energia, do motor.

Os dados estavam lançados e o reino inglês com as Revoluções Inglesa e Industrial deram a dianteira à Inglaterra.



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