Há um movimento decisivo na história das nações europeias, 1789, a data charneira, que iria acelerar os processos de desmantelamento da civilização judaico-cristã.
O Portugal da transição do século XVIII para o XIX ainda vivia à margem dos efeitos revolucionários franceses, com o país a fruir de vantagens e de estabilidades decorrentes da sua posição geográfica e de porta de entrada na Europa. A geografia, desde sempre, representou e representa um papel de primordial importância na história das nações. Portugal é um caso paradigmático da sua excelente posição geográfica dentro do contexto europeu e mundial.
Até aos anos imediatamente antes das invasões napoleónicas, as relações com França eram boas, as alianças externas do reino estavam perfeitamente estabelecidas e consolidadas, para além dos domínios do ultramar se revelarem tranquilos com ausência de problemas de segurança nas vias marítimas. Mas tudo se começaria a alterar a partir de 1797, com o infame Tratado de Fontainebleu.
Na transição do século XVIII para o XIX existiam duas facções bem definidas; os chamados afrancesados e os inglesados. segundo cronistas da época, a luta entre as duas facções foi bem pior do que a luta subsequente entre liberais e absolutistas. Esta opinião pode ser controversa e exagerada, mas é certo que os interesses económicos e as vantagens sociais eram a preocupação exclusiva das camarilhas cortesãs e respectivas bases de apoio.
Para se ter uma ideia dos interesses económicos envolvidos, diga-se que entre 1796 e 1806 a balança comercial entre Portugal e Inglaterra passou de 9838812$463 réis para 17788267$282 réis, um aumento de quase 100%. Relativamente à balança comercial entre Portugal e França, passou no mesmo período considerado, de 268312$188 réis para 7682088$432 réis, ou seja, um aumento de 3000 e tal por cento!!!
Perante estes números gerou-se uma feroz competição entre a burguesia mercantilista da época, entre os afrancesados e os inglesados. A partir de 1807 com o bloqueio continental decretado por Napoleão prejudicou os afrancesados, que, por sua vez, estavam a ganhar terreno aos inglesados. Embora o intercâmbio entre Portugal e Inglaterra continua-se em expansão, pelo lado das exportações, temia-se que a crescente concorrência francesa provocasse recessão nos negócios com os ingleses. Apesar de tudo, os anos seguintes não confirmaram essa tendência, e a expulsão dos exércitos napoleónicos de Portugal provocaram o aumento dos negócios com os ingleses.
Mas o pior de tudo veio com Revolução Liberal de 1820 e o vintismo que se lhe seguiu. Um ano antes da revolução, em 1819, o défice comercial português já era visível: 19447806$024 de exportações para 24296834$600 de importações (em réis). Em 1822, os vintistas de serviço, aplicaram a famosa "austeridade" conseguindo reduzir o défice da balança comercial: de 15611637$822 réis em exportações para 19181984$032 réis de importações, ou seja, o défice foi reduzido de 5000000$000 em 1819 para 3500000$000 em 1822. Estes números mostram, para além dos sucessivos défices, a baixa, sobretudo com o Brasil, do comércio em geral a que temos de somar os efeitos negativos da abertura dos portos brasileiros aos ingleses e outros, assim como os efeitos negativos da independência do Brasil.
Por outro lado, é por demais evidente que já a esquerda da época apenas conseguiu diminuir o défice comercial mediante a receita da "austeridade", mas essa medida revelou-se não apenas ineficaz como também contraproducente. O que acabou por acontecer foi que o saldo das importações sobre as exportações baixou para menos de metade em termos absolutos, o que mesmo assim nada resolveu porque o país não crescia, não produzia e consequentemente não conseguia exportar mais. O pensamento revolucionário da época vintista foi fatal para as aspirações económicas do reino português. A forma como se processou a independência do Brasil foi prejudicial para Portugal. Não apenas não foram tidos em conta os interesses económicos do reino na sua dependência ultramarina, como também não se consideraram aspectos sociais e financeiros que acabariam por prejudicar, mais uma vez e em dose dupla, os investimentos portugueses. O relacionamento comercial entre a metrópole e a antiga colónia foi bastante afectado e apenas na década de 1840 houve algum apaziguamento.
A partir de 1823, houve um ligeiro aumento do défice corrente da balança de transacções. A "austeridade esquerdista" não foi capaz de resolver, nem o poderia ser com ideias revolucionárias manifestamente contrárias às necessidades prementes do reino, de reforçar a baixa das importações com a subida (tímida) das exportações. O vintismo revelou-se totalmente incapaz de corrigir os desequilíbrios da balança comercial portuguesa, nem sequer evitar a subida de preços, como o caso do pão, principal indicador do custo de vida à época. A péssima política vintista (de esquerda), tal como hoje acontece, gerou amplo descontentamento, quer da parte dos agricultores que não conseguiam vender os seus produtos e excedentes, quer da parte da burguesia comercial que viam os seus negócios a definharem e quer por parte dos restantes sectores das pequenas e médias burguesias urbanas com falta de investimento directo nos seus negócios, artes e ofícios.
Uma massiva rejeição dos ideias liberais fez crescer a oposição ao regime. O resto da história é bem conhecida, Vilafrancada, Abrilada e subida ao poder de D. Miguel com o regresso do absolutismo e das guerras que se seguiram. Gerras, desordens, discórdias e atraso, atraso absoluto e irreversível.
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